Ser herói parece um privilégio reservado a poucos... No entanto, quando a Igreja se dispõe a averiguar a autenticidade cristã de alguém que tenha morrido em odor de santidade, o primeiro passo consiste em examinar se foi heróico ou não na prática das virtudes. Isto quer dizer que o heroísmo é um componente básico do ideal cristão. Ser heróico vem a ser algo de normal ou normativo para o cristão.
E em que consiste o heroísmo?
- Não é necessariamente fazer coisas vistosas, mas, sim fazer aquilo que Deus pede (às vezes, simplesmente o cotidiano rotineiro) de maneira coerente e radical, sem regateios nem tibieza. Aí está o extraordinário do heroísmo cristão: apesar da tendência à lerdeza e à acomodação, mobiliza-se para realizar com a possível perfeição cada tarefa do dia e da noite. Com outras palavras: o heroísmo consiste em que o cristão não se deixe abater por erros e falhas, não capitule nem se entregue à mórbida compaixão para consigo mesmo, mas procure reerguer-se prontamente de suas quedas e prossiga com fortaleza e serenidade na estrada do Senhor.
Um texto bíblico vem muito a propósito... A epístola aos Hebreus é dirigida a cristãos propensos ao desânimo... o autor sagrado propõe-lhes então, no capítulo 11, a galeria dos heróis da fé desde o justo Abel até os mártires macabeus (séc. II a.C.). E acrescenta: toda essa multidão de gente forte se coloca agora como "torcedores" num estádio, a espreitar o modo como as gerações cristãs, por sua vez, assumem o desafio da sua vocação: esta não é vocação para corrida de salto espetacular, que em segundos é superada retumbantemente, mas é corrida de fôlego, que tanto mais gloriosa é quanto mais prolongada: um passo, um passo, mais um passo, mais um passo... até chegar "caindo aos pedaços"; cf. Hb 12,1-4. Tal é o heroísmo cristão: uma corrida de fôlego, que os espectadores não têm paciência e tempo para acompanhar, porque "não termina mais"; Deus, porém, e o atleta cristão sabem quanto esse heroísmo imperceptível é grande. Para vencer o páreo, o cristão tem que depor o fardo do pecado, que o torna pesado (torne-se "peso leve") e munir-se de paciência tenaz e perseverante. O autor observa ulteriormente: "Ainda não disputastes até o derramamento do sangue" (Hb 12,4), o que lembra um princípio proposto aos atletas greco-romanos: "Não é atleta consagrado aquele que não vê correr o seu sangue".
No Amor heróico de Cristo configurado em seu Coração, possam os fiéis católicos tornar-se conscientes desta sua vocação ao heroísmo e fujam da "áurea mediocridade", que é anemia e leva à estagnação e à morte.
"Somos filhos dos Santos, e esperamos aquela vida que Deus há de dar àqueles que nunca retiram dele a sua fé" (Tb 2,18 Vg).
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB